Quando chora uma sombra
O sol avançava em pleno apogeu
sobre um rude labirinto de ruas e ruelas
onde vultos se revelavam a cada esquina
vindos em pequenos grupos que se condensavam
agrupavam, para nunca mais pequenos serem.
A multidão tomava vida na génese de uma nova era
e o povo enclausurava-se no cantar de um coro divino
cujas vozes se cruzavam num pensamento uníssono
de um só crer, de uma só vontade.
Nesse dia o cantar dos Homens ascendeu aos céus
num tom que se sobrepôs ao pulsar desta Terra
ao chilrear dos pássaros, ao ulular das ondas,
ao gentil sopro dos ventos, às forças ancestrais
que nos haviam moldado em tempos esquecidos.
O exército vestido de branco celebrava
a paz que se erguia segura após a derradeira batalha,
segura, certa que para sempre perduraria
porque, até ao horizonte, nuvem alguma parecia existir.
Os guerreiros e guerreiras armados de ramos de oliveira
largavam puras aves no campo do desespero
eles dançavam no meio da sua loucura
absorvidos pela insanidade das palavras que pregavam
eles dançavam, dançavam porque a sua hora havia chegado.
Todas as almas celebravam…
todas as almas cantavam…
todas as almas dançavam…
todas… menos uma!
No meio daqueles infinitos corpos
uma sombra de outros tempos se erguia
firme, inerte chorava no seu âmago aquele dia.
Era a única sombra rodeada de branco todo igual
chorava, porque as sombras apenas se revelam
quando o sol entra em declínio.
Estou a pensar utilizar este como prefacio ou epilogo de um texto maior que estou a desenvolver ( O Sacrificio das Sombras). Penso que está bom, tem ja muito a ver com a estória atrás referida... bem, espero que gostem desta primeira entrada mais desenvolvida em algum tempo.
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