Diz que não.
Diz que sim.
Mas diz bem!
Passando pelo Chiado fui abordado (há já algumas semanas) por um membro de uma das associações que apoiam o "não" no referendo próximo sobre a lei do aborto.
Pediu-me uma assinatura de apoio ao movimento a que pertencia. A tal pedido respondi que não era solidário pela causa em questão (o voto pelo não).
Após esta resposta tenta convencer-me a assinar dizendo que esta assinatura de apoio não tinha nada a ver com o voto nas eleições (no comment) sendo apenas para juntar assinaturas suficientes para oficializar o movimento (vejam a novidade que me estava a dar... no entanto não estava a gostar do argumento escolhido).
Então a abordagem muda de forma para argumentação mais agressiva:
-Mas conheces a proposta de lei?
-Sabias que querem a despenalização total do aborto durante gravidez?
e?... mais nada
Bahh.. Agora não podia estar mais calado.
Perguntei se era isso que andava a dizer às outras pessoas, já que esta afirmação mostra uma profunda falta de conhecimento sobre o que fala (sendo mais directo posso afirmar que se trata de ignorância intencional na argumentação ou uma leve manipulação através da omissão de diversos factos)...
Disse uma frase que metia a expressão "10 semanas" lá no meio... não sei porque terei dito tal baboseira...
Então a rapariga muito envergonhada começa a desculpar-se e a dizer que tinha sido só connosco.
Por alguma razão não acreditei.
Despedi-me da rapariga sem deixar obviamente assinatura alguma. Então vejo incrédulo um amigo meu a assinar (vou ser morto por dizer isto... mas que se lixe), então parece que aquela técnica não era assim tão má.
Durante os tempos que se seguiram deparei-me com alguns casos semelhantes, e especulo que tanto pelo "sim" como pelo "não" estas omissões de factos estejam a ser utilizadas em larga escala.
É uma pena...
Bem... agora deixo o meu testemunho sobre o assunto.
Não sou extremista nesta questão. Como em muitas outras penso que o ideal seria uma lei resultante de uma dialéctica racional que apresentasse uma abordagem caso a caso.
Mas sejamos realistas e pragmáticos... tal lei poderia ser aplicada eficientemente?
Penso que não.
Logo penso que a lei agora proposta é uma forma mais tolerante de lidar com este assunto extremamente delicado.
Mas um dos pontos principais do "sim" é o facto de tal descriminalização permitir um melhor acompanhamento médico e psicológico antes, no decorrer e depois do aborto. Estaria a mentir se dissesse que não conheço adolescentes que abortaram e que necessitavam desse apoio quando não sabiam para onde se virar.
Não sei quem querem enganar quando pensam que o aborto ilegal é uma fantasia… pois, ganhe o sim ou o não, o aborto continuará a ser uma realidade bem presente na sociedade actual.
E pensando bem, 10 semanas não é, comparando com as leis em vigor nos tanto chamados “países civilizados”, um valor excessivo.
Compreendo o porquê de muitas pessoas votarem “não”, até respeito profundamente diversas argumentações dessa causa, mas, por favor, não tornem o direito à vida num cliché no meio da propaganda!